domingo, 7 de fevereiro de 2010

Jazz. Onde?

Que o jazz seja uma arte menor não há a menor dúvida. É suficiente ir à um megastore tipo Saraiva ou Fnac para dar-se conta da limitadíssima quantidade de títulos de jazz disponíveis.
É verdade que a indústria discográfica está vivendo um momento de crise, especialmente por causa da música digital facilmente acessível via internet. Se isso vale para o pop e o rock,que sempre dominaram as vendas, quanto mais triste a situação para o nosso caro bom e velho jazz, que sempre contou com um restrito número de poucos (mas bons) aficionados.
Se excluirmos as re-edições, remasterizações e reprensagens de clássicos (será que alguém sentia a necessidade de uma enésima versão de "Kind Of Blue", com camiseta de brinde??), se tentarmos ir um pouco além dos mesmos nomes de sempre (Miles, Trane, Parker, Ellington, etc.) e fora o jazz-pop comercial das várias cantoras estilo Norah Jones, surge inevitável a pergunta: "onde está o jazz hoje? Será que ele morreu mesmo?"
A triste realidade é que hoje, para um músico de jazz, é muito difícil achar uma gravadora que invista nele bancando todos os custos. Jazz não dá lucro. Tanto que, como escrevi na resenha do cd "The End Of A Love Affair", existem nos EUA músicos que para poder lançar seus projetos se veem obrigados a gravar por etiquetas estrangeiras independentes, muitas vezes japonesas ou europeias.
A Blue Note, desde sempre a principal gravadora de jazz, tem um acervo invejável, mas a maior parte dele é ocupada pelas re-edições do período de ouro (anos '50 e '60), o mesmo diga-se da Verve, e pior ainda a Columbia, hoje Sony, cujo catálogo jazz sempre foi bem mais limitado. Um discurso particular merece a ECM de Manfred Eicher, desde sempre dedicada a um jazz mais intimista e voltado para o mundo, cujo catálogo oferece uma escolha boa e diversificada.
Apesar disso, o jazz continua bem vivo, e é "ao vivo", especialmente nos locais das cidades americanas, mas também do resto do mundo, que os jazzistas fazem a música brilhar. E graças a Deus existem incontáveis pequenas gravadoras, quase sempre de propriedade de apaixonados, que se encarregam de impedir que esta forma de arte exale o último respiro.
E é justamente no catálogo de gravadoras como Palmetto, High Note, Concord, Criss Cross, Savant, Venus, Red Records e outras que é possível encontrar o jazz de hoje gravado por mestres veteranos desconhecidos ao grande público (Harold Mabern é um exemplo) ou novos nomes como Ted Nash ou Avishai Cohen.
É só procurar. Existe um mundo de jazz além de "Kind Of Blue" e "A Love Supreme" que quer e precisa ser descoberto e valorizado.
Boas audições à todos!

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