Agora que o calor está deixando espaço ao primeiro frio torna-se possível e bastante agradável saborear um bom tinto. Este Castello Banfi descansava junto com outros conterrâneos há mais ou menos dois anos, lembrança de uma viagem na minha terra natal, na minha amada Firenze. Devo admitr que tenho a tendência a considerar alguns vinho "especiais", um pouco por preguiça e um pouco pelas lembranças que me trazem, de forma que fica difícil tirá-los da prateleira. É preciso uma ocasião especial.
Sexta-feira voltei a falar com um grande amigo ficado afastado numa daquelas temporadas de ausência que por vezes a vida impõe e sobre as quais não temos controle. Pouco importa. Quando os sentimentos são verdadeiros, podemos ficar distantes o tempo que for, a amizade continua intacta da mesma forma como foi deixada.
- Passa em casa hoje à noite, vamos tomar um vinho - digo eu.
- Ok - responde ele.
Quer ocasião melhor?
Assim que ele chegar abro a garrafa, meio apressadamente e em cima da hora, contrariamente aos meus hábitos (sempre deixo o vinho "arear" pelo menos uma meia hora). Deu certo.
Este vinho pode ser considerado o irmão menor do mais famoso Brunello, um dos mais conhecidos vinhos italianos. Os dois são produzidos a partir de uvas Sangiovese grosso. O rosso é envelhecido por 12 meses em carvalho e outros 6 meses em garrafa antes de ver as prateleiras das lojas. É considerado um vinho mais "fácil" que o Brunello e que pode ser tomado "jovem", à diferênça do irmão maior que dá o melhor de si depois de anos ou décadas de guarda.
Tomo cuidado em não estragar a rolha que dá sinais de querer partir ao meio. Missão cumprida, decanto e já está na hora de servir.
O Castello Banfi è de um vermelho rubi muito escuro, cor que normalmente me dá uma indicação sobre a consistência do vinho e me deixa tranquilo; com seus reflexos roxos, fica bonito no copo.
Ao nariz não excele (também não o deixei respirar muito), não é uma "bomba de frutas" argentina ou chilena, mas são evidentes as notas de ameixa e cereja e um leve toque de baunilha, que em momento algum se sobrepõe ao bouquet.
Na boca ele tem um ataque firme, taninos sedosos, boa concentração, elegância e firmeza ao mesmo tempo. Ótimo retrogosto e final longo e agradável.
Não evoluiu muito, até porque os 750 ml evaporaram muito rapidamente, mas deixou todo mundo satisfeito e pessoalmente fiquei com vontade de ter mais umas garrafas deste Rosso pra continuar a agradável conversa, num fundo musical de grandes vozes líricas (Maria Callas, Beniamino Gigli).
Enfim, fui dormir feliz, um pouco pelo vinho e muito pela reaproximação do meu grande amigo Enio.