domingo, 13 de janeiro de 2013

Filmes que você tem que evitar: TAKEN 2

Considerações gerais:
Primeiro: Liam Neeson é um bom ator.
Segundo: "Taken" de 2008 é um bom filme de entretenimento (mesmo com umas coisas forçadas).
Terceiro: Taken 2 é uma merda total.

O filme é simplesmente uma sequências de cenas absurdas e incoerentes, uma após a outra.
A trama é simples: as famílias dos albaneses que Bryan Mills (Liam Neeson) exterminou no primeiro filme por terem sequestrado a filha dele em Paris, se reúnem liderados por um velho que é pai de Marco, chefinho meia-boca brutalmente assassinado no episódio anterior. O objetivo é óbvio: vingar-se do Mills.
O filme começa com o nosso herói que, perfeito pai de família, vai visitar a filha Kim (Maggie Grace) que vive com a mãe, tem um namorado e não consegue tirar carta de motorista. E o que o perfeito pai faz? Se oferece para deixar a filha estacionar o próprio carro (coisa que ela consegue perfeitamente!)resolvendo o problema de falta de auto-estima dela. Vamos ficar de olho nessa menina!
Lenore, a mãe de Kim (a linda Famke Janssen), está em crise com o atual companheiro e não é mais a mulher azeda e rancorosa que costumava ser com Bryan, muito pelo contrário: quando o namorado milionário decide cancelar a viagem que haviam planejado, ela se joga nos braços do ex e topa curtir uns dias de "férias" com ele em Istambul. Mulher de fases?
E com uma cena memorável, na qual ela e Bryan decidem brindar juntos e os dois copos aparecem de uma hora pra outra magicamente cheios de vinho sem que eles tenham aberto a garrafa, começa a série de besteiras que vai até o fim desse filme.
Estávamos falando de férias, certo? Sim, porque o Bryan arrumou um "bico" em Istambul onde dá pra entender vagamente que ele foi contratado por dois ou três dias para proteger um sheik importante e de repente ex-mulher e filha aparecem (interessante como estes americanos conseguem passagens tão facilmente e em cima da hora!).
Bom, então eles estão curtindo o hotel super-chique em que estão alojados enquanto os albaneses estão preparando o plano pra sequestrar as mulheres queridas do Bryan. Tem que dizer que estes vilões são uns miseráveis mal vestidos, todos barbudos e sujos que moram em lugares sinistros, muquifos onde assistem a jogos de futebol em uma tv em preto e branco (quem no mundo no ano 2012 ainda tem tv em preto e branco? Não existe!!!) mas ao mesmo tempo tem a disposição picapes, bmws, conseguem vistos falsos e usam armas automáticas para realizar o plano deles. Meio estranho, não?
Eles atravessam uma hipotética fronteira que dividiria a Albânia da Turquia (os dois países não fazem divisa em nenhum mapa e muito menos no mundo real, mas não importa porque americano não é bom de geografia!) e chegam em Istambul.
Bom, eles penetram no hotel, onde tem outra cena memorável: uma camareira provida de walkie-talkie (onde já se viu?) avisa a segurança da presença dos bandidos que depois de uma luta com golpes em câmara lenta, muito brega, conseguem capturar Bryan e ex esposa.
Eles, em outra cena fantástica, encostam uma faca no pescoço da Lenore, não se vê a imagem mas se percebe o som de um corte violento. Cortaram a garganta dela? É o que qualquer pessoa lógica pensaria. O chefe dos albaneses a amarra a uma corrente de cabeça para baixo, porque assim ela sofreria mais e demoraria mais pra morrer. Na realidade nas cenas seguintes descobrimos que machucaram apenas o rosto dela (pouco mais que um arranhão!)
Logicamente Bryan fica puto e tem uma carta na manga, ou melhor, um mini celular escondido em uma bota. Mesmo amarrado consegue com o pé levar o aparelho até as mãos, ligar pra Kim, avisá-la que ele e a mamãe foram capturados e, instruir a filha como se fosse uma agente secreta profissional. Ela, sob instrução do pai, entende tudo na primeira (!)e desenha uns círculos no mapa, para poder localizá-lo. Os círculos são baseados nas recordações que ele tem de quando, sequestrado e jogado na picape foi transportado pro esconderijo dos criminosos. Sim, porque ele contou os segundos que o carro andou antes de virar, lembra do som de uma espécie de ukulele que um velho está tocando na rua, como se esse instrumento fosse uma inteira orquestra, mas o Bryan é tão foda que lembra até mesmo das mudanças nas marchas do câmbio do carro que o estava transportando!
Sim, ele é tão foda que instrui a filha a jogar granadas da janela do hotel e ela consegue quase acertar o lugar onde os inimigos estão! A menina provoca o caos com um par de granadas e desestabiliza os albaneses.
Assim ele consegue se livrar, cortando o "barbante" que o aprisionava e instrui a filha, que está correndo pelos telhados das casas(!), para jogar a arma dele através de um cano de onde ele fez sair fumaça. Claro que ele consegue fugir e junto com a filha, que agora dirige como um 007, conseguindo dar cavalinho de pau de ré e fugir pelas ruas da cidade a altíssima velocidade escapa da ameaça.
Vocês querem mais ou posso parar aqui?
Outro momento superlativo dessa bosta de filme acontece quando pai e filha irrompem de carro na embaixada americana e não recebem nem um tiro dos soldados e dos guardas (a motivação idiota é que "poderia ter uma bomba de terroristas no carro") porque Bryan atráves do celular consegue falar com um dos amigos dele que tem influência no governo e esse amigo em poucos segundos consegue tirar o deles da reta...
Bom, qualquer um pode facilmente imaginar o final. Os bons vencem, ninguém se machuca enquanto os maus morrem todos. Kim passa no exame da auto-escola e viveram felizes para sempre.
Sim, tomara que seja para sempre, porque tenho medo só de pensar em uma continuação dessa vergonha de filme.
Enfim, um filme horroroso, que qualquer pessoa com um mínimo de inteligência e amor a si mesma e ao cinema faria bem a evitar. Não considero nem como opção para entretenimento. Um verdadeiro insulto à inteligência.
Se tivesse pelo menos a auto-ironia de "Os mercenários 2" poderia até se salvar, caindo no ridículo, e pelo menos provocaria boas gargalhadas no espectador, mas infelizmente para ele e para quem o assiste, este filme comete o erro de se levar muito à sério e acaba se tornando uma porcaria colossal.
Fuja dele!

sexta-feira, 9 de março de 2012

Como limpar os discos de vinil




Sobre limpeza de discos de vinil existem opiniões tão divergentes e tão pessoais que o assunto chega quase a ser um dogma religioso.
Alguns afirmam que jamais o disco de vinil deva ser lavado, outros acreditam que a limpeza deva ser feita apenas usando os produtos específicos para isso (quase sempre muito caros e difíceis de serem encontrados aqui no Brasil), ou as máquinas tipo Nitty Gritty ou VPI, outros acham que é suficiente passar um pano ou uma escova antiestática pouco antes de pôr a agulha no discos e ainda outros confiam nas "receitas caseiras", sempre em busca da solução ideal.
Em geral a melhor limpeza possível é feita por sucção, ou seja algo que aspire a sujeira do disco.
O método que vou ensinar é simples, manual e só fruto de muita pesquisa e experiência pessoal. Não tenho a pretensão de afirmar que seja o melhor método de limpeza do mundo e respeito qualquer outro sistema. Afinal, cada um faz o que bem entender com seus próprios vinis. Só posso dizer que, depois de anos, encontrei um método de limpeza ao alcance de praticamente todos e que produz bons resultados.
Então vamos imaginar a seguinte cena: você achou no sótão, num sebo ou ganhou de um amigo/parente,etc. alguns discos que ficaram só Deus sabe onde por muito tempo. Quando abre o celofane que os guarda (se ainda existe) se depara com a triste realidade: os discos estão cheios de pó, sujeira de todos os tipos, na pior das hipóteses mofo. O que fazer?
Depois de alguns anos de experimentação cheguei à conclusão que é bastante fácil remover a sujeira superficial, aquela visível. Para isso, uma simples lavagem com água e detergente neutro (tipo Ypê, Minuano, etc)pode ser suficiente. O problema é que existe um tipo de sujeira invisível nos microssulcos dos lps que é muito difícil de remover. Esta sujeira é a maior responsável pelos "plocs" que se ouvem quando a agulha trilha os sulcos e, impedindo uma correta leitura do sinal gravado nas paredes, acaba por abafar o som.
O meu método utiliza os seguintes produtos que podem ser encontrados facilmente:
- Vinagre claro (o vinagre tem alto poder de limpar e dissolver a gordura, tanto que é usado na limpeza de superfícies plásticas ou acrílicas). No lugar do vinagre, e ainda melhor, porém mais dificil de encontrar, pode ser usado alcool isopropílico, que se encontra nas lojas de eletrônicas e é usado pra limpar placas de computadores, partes eletrônicas, etc.
- Um borrifador
- Um pedaço de veludo sintético (se compra por metro em qualquer loja de tecidos). O veludo sintéticos tem fibras microscópicas que conseguem penetrar nos sulcos dos lps sem danificá-los.
- Detergente para louças de preferência neutro.
- Água destilada (preferir) ou se não tiver, pelo menos filtrada.

Faça uma solução de 50% vinagre branco ou alcool isopropílico e 50% água destilada (ou filtrada) e coloque em um borrifador. Adicione uma ou duas gotas de detergente neutro tipo Ypê. Poucas gotas mesmo, é o suficiente para "quebrar" a molécula da água pra permitir que essa solução entre nos sulcos.
Apoie o disco a ser lavado em cima de uma superfície lisa e não abrasiva (eu uso plástico bolha ou nylon), borrife bem o lp fazendo atenção a não molhar o selo (o vinagre poderia estragá-lo), passe o pano de veludo sintético com movimentos circulares em cima do disco, seguindo a direção dos sulcos (eu faço em sentido horário)até ter atingido toda a superfície do mesmo. Não precisa fazer muita pressão. Enxágue debaixo da torneira com bastante água fria (pode molhar o selo que não tem problema, o simples jato de água não estraga o selo). Repita a operação para o outro lado do lp. Normalmente depois de enxaguar o lado B eu enxaguo de novo o lado A também, visto que ele ficou em cima do plástico que pode conter resíduos da sujeira que acabou de ser removida. Enxágue o pano de veludo e remova o excesso de água para cada disco que for limpar.
Depois de enxaguar os dois lados deixe secar naturalmente ao ar. Não tente secar com algum pano que poderia empoeirar ou sujar os discos de novo.
Eu coloco os discos no escorredor de pratos, como na foto. Leva mais ou menos uma hora para os discos secarem completamente.
Experimente! Garanto que com este sistema aqueles discos imundos que você resgatou perderão a maior parte dos "clicks" e "plocs" que incomodam a audição, o som ficará mais nítido e sua audição mais prazerosa.
Para resultados ainda melhores, comparáveis aos obtidos com as máquinas profissionais, não deixe de ler meu outro artigo sobre limpeza profunda com sucção aqui, neste mesmo blog, sob o título "O pulo do gato na limpeza dos discos de vinil"
E não deixe de comentar os resultados!

domingo, 14 de agosto de 2011

Sony MDR-XB300 review




Este Sony MDR-XB300 é um fone "over the ear", um daqueles que cobrem completamente o ouvido. Ao peso cerca de 120 gramas, ele é bem confortável com os pads bem macios e altos. Enquanto o fio de "tipo Y" , ou seja que sai de cada pad, é objetivamente curto (1,2m), tem uma caracteristica muito interessante e que garante boa durabilidade: de fato ele é achatado, tornando praticamente impossível aquela que talvez seja a principal causa de estrago de um fone, ou seja o enroscamento do próprio fio com conseguinte perda de contato. Ótimo portanto para quem o utilizar com pcs ou dispositivos portáteis como I-pods, mp3 players ou celulares.
Quem quiser conectar este fone a tv, home theater ou som e acomodar-se confortavelmente no sofá vai precisar comprar uma extensão visto que o cabo só mede 1,2m(nada de proibitivo).
No papel esse fone promete muito: a resposta em frequência declarada pela Sony é 5-22.000 hz, o próprio XB no código do produto significa "Extra Bass", garantindo uma boa reprodução das baixas frequências. Isso graças aos poderosos drivers de 30 mm que quando em ação oferecem um elevado nível de isolamento acústico. Em prática, se você ouvir música em um discreto volume, quem estiver ao seu lado não será incomodado pelo som e também você não perceberá as conversações e os outros barulhos ao seu redor.
Mas vamos testar este fone com vários tipos de música.
Teste realizado com o fone diretamente plugado na saída do pc.
O MDR-XB300 não é o tipo de fone que possa ser considerado "neutro" ou "transparente", visto que enfatiza os graves, fato que por outro lado assegura que o som reproduzido esteja sempre fundamentado em bons alicerces.
Com o jazz, por exemplo "Love for sale" na versão de Cheryl Bentyne é agradabilíssima: o orgão que entra ao uníssono com o contrabaixo logo após as baquetas no chimbal, tem força e profundidade. A linda voz da cantora bem definida, assim como o saxofone. Com certeza esse é um fone que brilha com pequenos combos. Só pra confirmar minha impressão coloco Ray Brown, Monty Alexander e Sam Most em "Blue Monk": aqui os graves estão na minha opinião dominando. O som me parece um pouco "embolado" pelo excesso de graves. De fato, depois de um pequeno ajuste no equalizador, o piano aparece mais brilhante, os graves ainda sustentam e dão vitalidade à musica mas sem sobrepor-se. A flauta emerge bem na mixagem.
O Trio da paz em "Manhã de Carnaval", muito intimamente nos devolve intacto o feeling da bossa nova: o violão bem definido,nunca metálico, as vassourinhas marcando o tempo, o contrabaixo pleno mas não retumbante, a voz etérea. Amei!
Tempo de mudar de estilo: eis aqui os bons e velhos Stones em "Gimme Shelter". A textura das guitarras è boa, a voz do Mick e da Lisa aparecem um pouco distantes, a rítmica ok, mas é preciso lembrar que essa gravação não è das melhores e talvez fosse esse o efeito desejado pelos próprios músicos. Reprodução honesta de qualquer forma.
Vamos passar a uns descendentes dos Stones: "Remedy" dos Black Crowes é simplesmente devastante! Dá vontade de pegar um baixo e sair tocando!!!
Grandes os Blues Brothers em "Gimme some lovin'". Guitarra, baixo, bateria e sopros se amalgam de uma forma perfeita. Aqui também as vozes me parecem um tantinho atrás. Mas talvez seja minha impressão. Me divirto muito ouvindo essa faixa!
"Still of the night" do Whitesnake testemunha mais uma vez que o MDR-XB300 dá realmente um "live" feeling, como se estívessemos ouvindo os músicos tocando ao vivo. A música tem energia, nunca perde força. No começo da parte falada a voz do Coverdale não é muito inteligível, os graves descem sem piedade lá em baixo, embolando um pouco as coisas. Onde outro fone, digamos o Grado SR-60 devolveria a música bem mais polida, o Sony se comporta de forma visceral, com muita energia mas um pouco de dificuldade na separação dos instrumentos.
De qualquer forma... é só rock n' roll, e (graças a Deus!) nós gostamos.
Quero ver como este fone se comporta em um contexto mais "sério". Vittorio Grigolo, tenor italiano da nova geração em "Uma furtiva lacrima", também necessita de um pouco de correção para moderar os graves que de outra forma soariam invadentes demais. A voz è bem reproduzida em todas suas nuances, tem calor e profundidade. Dificil avaliar os instrumentos que nessa ária se limitam a prover um acompanhamento mais que discreto. Coloco então "Che gelida manina" e os arcos me parecem bem dimensionados, os sopros em equilíbrio. A voz do tenor sobe até os agudos sem grandes problemas. Gostei. Preciso avaliar as vozes femininas - penso - e assim chega a vez de Angela Gheorghiu. "O mio babbino caro" ao vivo me parece correta e equilibrada.
Agora algo diferente: The Ondekoza - Legend é um album que sonicamente daria problemas a qualquer caixa acústica ou fone de ouvido, tamanhas as baixas frequências destes tambores japoneses. O som que escuto através deste fone é forte, profundo e definido na faixa "Odaiko", onde uma flauta se livra etérea no ar, quase afugentada pela percussão do tambor. O som é reproduzido com uma realidade impressionante. Muito sugestivo, sem sombra de dúvida.
Hora de testar os graves de verdade com "Angel" do Massive Attack. Essa faixa tem uns sub-graves daqueles que fazem as paredes tremer(algo em torno de 20 hz!). Mais uma vez o som que chega ao meu ouvido confirma a excelência com que este fone reproduz as baixas frequências, com potência e precisão, sem esquecer do resto do espectro sonoro que tambèm se integra perfeitamente.
"The expert" dos suiços Yello é outro exemplo de música eletrônica com alto conteúdo de graves, vozes profundas, teclados e samples gravados maravilhosamente. Aqui também o resultado è excepcional. É claro que se trata de um fone que se dá muito bem com música eletrônica, hip-hop r'n'b e dance.
Continuo o test com um pouco de música erudita. O "Allegro moderato" da Arpeggione Sonata de Rostropovich e Britten é muito agradável atráves desse fone, talvez um pouco "escuro", faltando um pouco de brilho no piano.
O início da Sinfonia n.5 de Beethoven (Carlos Kleiber) é reproduzido com toda sua carga emocional (o destino que bate na porta). A massa orquestral é bem compacta, falta porém na minha opinião um pouco mais de presênça nos agudos (mas pode ser uma caracteristica da gravação da DG realizada entre 1974-76).
Conclusões:
O MDR-XB300 é um fone que excele onde tiver graves marcantes, não importa o tipo de música, garantindo um "punch" e energia incríveis. Blues, rock, pop, jazz, dance e quanto mais tocam com qualidade através deste fone da Sony. Ao contrário, onde os graves são mais sutis e onde a textura musical é mais complexa, as baixas frequências podem ter a tendência a sobrepor-se um pouco ao resto. Não se trata de um fone dos mais analíticos, portanto talvez não muito apropriado para mixagens em estúdio, por outro lado para quem busca o prazer de ouvir música com boa qualidade e conforto em casa ou em qualquer lugar é altamente recomendado.
Ótimo custo-benefício para quem comprar este fone na Europa ou nos EUA (me custou 35 euros na Fnac da Itália), um pouco menos aqui no Brasil, onde pode ser encontrado ainda por um preço acessível (por volta dos 200 reais), com absurdos (um erro com certeza) como no site Americanas onde o MDR-XB300 é vendido por R$ 9.999!!!

sábado, 19 de março de 2011

Joe Henderson - Lush Life (The Music of Billy Strayhorn)


"Lush Life",gravado em 1991, é o primeiro de uma série de 4 cds-tributo a grandes compositores do jazz moderno que Joe Henderson gravou pelo selo Verve,série que deu-lhe certa fama e até um discreto sucesso comercial nos anos 90. Mas o sax tenor de Joe Henderson já estava na ativa há muito tempo: é de 1963 a estréia pela Blue Note ("Page One"), além de estar presente em ótimos discos considerados "clássicos". Pensamos em "The Sidewinder" de Lee Morgan, "The Real McCoy" de McCoy Tyner, "Point Of Departure" de Andrew Hill, "Unity"de Larry Young e "Song For My Father" com o Horace Silver Quintet, apenas para mencionar alguns.
Este álbum é um tributo à música de Billy Strayhorn, íntimo colaborador de Duke Ellington, e com ele autor de páginas inesquecíveis na história do jazz. É de Strayhorn, à título de exemplo, a celebérrima "Take the "A" Train".
O veterano saxofonista se apresenta em forma excelente, acompanhado por músicos da "nova safra", que mostram competência e confiabilidade. O quinteto é completado por um inspirado Wynton Marsalis (trompete), o brilhante pianista Stephen Scott, Christian McBride (contrabaixo) e Gregory Hutchinson (bateria).
Em vez de enfrentar as dez composições de Strayhorn com o quinteto, o líder varia as formações: dueto com contrabaixo, com piano e com bateria, trio com piano e bateria ou piano e contrabaixo, quarteto sem o Wynton Marsalis, três faixas em quinteto e a final "Lush Life" para saxofone solo. Um programa variado que oferece espaço de sobra para todos brilharem e que só pode agradar o ouvinte.
Na inicial "Isfahan", o saxofonista é acompanhado apenas pelo excelente contrabaixo de Christian Mc Bride, 21 anos na época desta gravação, mas já dono de uma técnica e de um timbre formidáveis. "Johnny Come Lately" é um up-tempo com espaço para todos os solistas e com um interplay entre Wynton Marsalis e Joe Henderson que o próprio saxofonista chega a comparar com as colaborações com Kenny Dorham no início dos anos '60.
Mas é difícil escolher uma faixa entre todas, considerado o alto nível de qualidade da música e o entrosamento da banda. Desde a belíssima "Isfahan" por sax e contrabaixo, até uma arrasadora versão de "Take The "A" Train" com Henderson duetando com um incrível Greg Hutchinson na bateria, chegando às faixas com o quinteto completo, este cd tem o som e o sabor de um clássico do começo ao fim.
Para quem ainda não conhece Joe Henderson, "Lush Life" é um ótimo ponto de partida, junto aos outros títulos pela Verve. Quem já aprecia este grande jazzman desde os tempos da Blue Note, Milestone ou Red Records, encontrará agradáveis confirmações do talento e da arte deste grande músico, que infelizmente nos deixou em 2001.

Joshua Redman - Mood Swing



Depois de dois bons discos (a estréia com o quarteto, e “Wish” com Pat Metheny, Charlie Haden e Billy Higgins), Joshua Redman volta com seu quarteto neste “Moodswing”. O acompanham Brad Mehldau (piano), Christian Mc Bride (contrabaixo) e Brian Blade (bateria), que em breve decolarão todos para carreiras solistas prometedoras. Os 70 minutos de música apresentam algumas novidades sobre os dois álbuns precedentes: a primeira é que as onze faixas são originais de autoria do próprio Redman e a segunda é que o mesmo, além do sax tenor, utiliza o soprano. Redman obviamente tem maturado bastante desde os discos anteriores: isso é evidente no timbre reflexivo e aveludado do sax tenor em “Sweet Sorrow”, a faixa inicial, na bossa nova “Alone In The Morning”, no fraseado quase “free” de “Dialogue”, ocasiões em que o saxofonista mostra domínio em cada registro do instrumento, entre outras coisas, com uma voz bastante original, que não mostra influencias coltraneanas, tão comuns nos jovens saxofonistas.O som de Redman parece mais ter raízes nos tenores tradicionais (Gene Ammons, e até Ben Webster).
Onde aparece um pouco de “Trane” é quando Redman passa a utilizar o sax soprano, em “The Oneness Of Two (In Three)”. A banda, soberbamente, acompanha o líder com classe e refinamento: muito bonita a introdução com arco de Christian Mc Bride na faixa “Dialogue”, e no disco inteiro fenomenal a contribuição de Brad Mehldau, um verdadeiro gênio no piano. Notável também a performance de Brian Blade atrás dos tambores.
Um cd que se escuta com prazer e que prova que o jazz dos anos 90 tem deixado registros muito válidos.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Cães de aluguel (Reservoir dogs)



Admito ser um pouco preconceituoso sobre os filmes de Quentin Tarantino.
Antes de "Cães de aluguel", o único título que conhecia deste diretor era "Bastardos inglórios", filme que, se por um lado havia me conquistado pela habilidade de Tarantino de construir tensão (memorável a cena inicial), por outro exibia cenas de violência gratuita de extremo mau gosto, além de uma música que grotescamente tentava clonar os "spaghetti-western" de Sergio Leone musicados por Ennio Morricone, desde sempre uma das grandes paixões de Tarantino.
Minha opinião é que os filmes de Tarantino oscilam entre a obra-prima e o pior do cafona/brega, dependendo dos pontos de vista e dos gostos pessoais de cada um podem agradar ou não. Enfim, ou se AMA ou se ODEIA.
Em "Cães de aluguel" também tem violência, mas ela nunca é desnecessariamente jogada na cara do espectador e sim usada como propelente para dar impulso à trama. O aspecto psicológico dos personagens e como eles enfrentam as situações que aparecem é o que realmente faz a diferença aqui.
Os personagens são bem construídos, os diálogos inteligentes e cortantes; os atores, entre os quais minhas preferências vão para Harvey Keitel e Steve Buscemi, excelentes.
A trama: um chefe criminoso reúne um grupo de profissionais nenhum dos quais se conhece para realizarem juntos um assalto à uma joalheria. Tudo dá errado: a polícia já se encontra no local antes do crime acontecer; é evidente que na quadrilha há um informante.
O legal deste filme é que Tarantino consegue a proeza de fazer com que TODOS os personagens principais morram.
Se você gosta de ação, de violência e diálogos afiados (memorável o exilarante início com os personagens, entre os quais o próprio Tarantino, debatendo sobre "Like a virgin" de Madonna), você vai amar "Cães de aluguel". Caso contrário, não.
Difícil é ficar indiferente.

domingo, 15 de agosto de 2010

SONHAR COM A PRÓPRIA MORTE

É possível sonhar com a própria morte?
Obviamente sim. Não deveria existir nada de estranho nisso, da mesma forma como não deveria ter nada de estranho em sonhar de fazer sexo com uma pessoa amiga. Ou também não amiga, mas apenas vista, mesmo que uma única vez. Faz parte daquele delicado desequilibrio que nos mantém em vida.
O equilibrio leva à morte. Uma vez que o Universo parar sua violenta expansão, começada no início do Tempo, o calor não poderá mais transformar-se em energia, em trabalho. Nenhuma reação, nenhum movimento: só uma concreta e presente situação de eternidade e inalterabilidade, que coincide com a morte.
É possível sonhar com a morte, da mesma forma como uma noite você sonha com um casamento. Éros e Thanatos desde sempre estão em conflito e das feridas deles jorra nossa realidade vivente. Uma ferida deles nos deu a história de Romeu e Julieta. Muitas pequenas feridas nos trazem as incontáveis pequenas paixões de dias quaisquer e de gente qualquer.
Quando estou em silêncio sinto o sopro deste desequilibrio.

Me lembrei de como eu sonhei com minha morte...
Estou sentado no assento posterior de um automóvel, voando no asfalto. As árvores são matéria, o ar é matéria que bate na pele, o asfalto pode dilacerar a carne.
Porções de mundo passam debaixo do meu corpo sentado.
Sair da jaula... Voar, voar, rolar, voar... Os anjos nunca foram felizes... Cair e sentir a pele doer... Cair, sangrar... Sinto o meu corpo, eu sou o meu corpo, meu corpo é tudo que eu tenho. Estou feliz, não tenho medo de precipitar, mas é tudo um espetáculo de uma tal extraordinária lentidão...
(13/08/2007)