Mostrando postagens com marcador jazz. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador jazz. Mostrar todas as postagens

sábado, 19 de março de 2011

Joe Henderson - Lush Life (The Music of Billy Strayhorn)


"Lush Life",gravado em 1991, é o primeiro de uma série de 4 cds-tributo a grandes compositores do jazz moderno que Joe Henderson gravou pelo selo Verve,série que deu-lhe certa fama e até um discreto sucesso comercial nos anos 90. Mas o sax tenor de Joe Henderson já estava na ativa há muito tempo: é de 1963 a estréia pela Blue Note ("Page One"), além de estar presente em ótimos discos considerados "clássicos". Pensamos em "The Sidewinder" de Lee Morgan, "The Real McCoy" de McCoy Tyner, "Point Of Departure" de Andrew Hill, "Unity"de Larry Young e "Song For My Father" com o Horace Silver Quintet, apenas para mencionar alguns.
Este álbum é um tributo à música de Billy Strayhorn, íntimo colaborador de Duke Ellington, e com ele autor de páginas inesquecíveis na história do jazz. É de Strayhorn, à título de exemplo, a celebérrima "Take the "A" Train".
O veterano saxofonista se apresenta em forma excelente, acompanhado por músicos da "nova safra", que mostram competência e confiabilidade. O quinteto é completado por um inspirado Wynton Marsalis (trompete), o brilhante pianista Stephen Scott, Christian McBride (contrabaixo) e Gregory Hutchinson (bateria).
Em vez de enfrentar as dez composições de Strayhorn com o quinteto, o líder varia as formações: dueto com contrabaixo, com piano e com bateria, trio com piano e bateria ou piano e contrabaixo, quarteto sem o Wynton Marsalis, três faixas em quinteto e a final "Lush Life" para saxofone solo. Um programa variado que oferece espaço de sobra para todos brilharem e que só pode agradar o ouvinte.
Na inicial "Isfahan", o saxofonista é acompanhado apenas pelo excelente contrabaixo de Christian Mc Bride, 21 anos na época desta gravação, mas já dono de uma técnica e de um timbre formidáveis. "Johnny Come Lately" é um up-tempo com espaço para todos os solistas e com um interplay entre Wynton Marsalis e Joe Henderson que o próprio saxofonista chega a comparar com as colaborações com Kenny Dorham no início dos anos '60.
Mas é difícil escolher uma faixa entre todas, considerado o alto nível de qualidade da música e o entrosamento da banda. Desde a belíssima "Isfahan" por sax e contrabaixo, até uma arrasadora versão de "Take The "A" Train" com Henderson duetando com um incrível Greg Hutchinson na bateria, chegando às faixas com o quinteto completo, este cd tem o som e o sabor de um clássico do começo ao fim.
Para quem ainda não conhece Joe Henderson, "Lush Life" é um ótimo ponto de partida, junto aos outros títulos pela Verve. Quem já aprecia este grande jazzman desde os tempos da Blue Note, Milestone ou Red Records, encontrará agradáveis confirmações do talento e da arte deste grande músico, que infelizmente nos deixou em 2001.

Joshua Redman - Mood Swing



Depois de dois bons discos (a estréia com o quarteto, e “Wish” com Pat Metheny, Charlie Haden e Billy Higgins), Joshua Redman volta com seu quarteto neste “Moodswing”. O acompanham Brad Mehldau (piano), Christian Mc Bride (contrabaixo) e Brian Blade (bateria), que em breve decolarão todos para carreiras solistas prometedoras. Os 70 minutos de música apresentam algumas novidades sobre os dois álbuns precedentes: a primeira é que as onze faixas são originais de autoria do próprio Redman e a segunda é que o mesmo, além do sax tenor, utiliza o soprano. Redman obviamente tem maturado bastante desde os discos anteriores: isso é evidente no timbre reflexivo e aveludado do sax tenor em “Sweet Sorrow”, a faixa inicial, na bossa nova “Alone In The Morning”, no fraseado quase “free” de “Dialogue”, ocasiões em que o saxofonista mostra domínio em cada registro do instrumento, entre outras coisas, com uma voz bastante original, que não mostra influencias coltraneanas, tão comuns nos jovens saxofonistas.O som de Redman parece mais ter raízes nos tenores tradicionais (Gene Ammons, e até Ben Webster).
Onde aparece um pouco de “Trane” é quando Redman passa a utilizar o sax soprano, em “The Oneness Of Two (In Three)”. A banda, soberbamente, acompanha o líder com classe e refinamento: muito bonita a introdução com arco de Christian Mc Bride na faixa “Dialogue”, e no disco inteiro fenomenal a contribuição de Brad Mehldau, um verdadeiro gênio no piano. Notável também a performance de Brian Blade atrás dos tambores.
Um cd que se escuta com prazer e que prova que o jazz dos anos 90 tem deixado registros muito válidos.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Jazz. Onde?

Que o jazz seja uma arte menor não há a menor dúvida. É suficiente ir à um megastore tipo Saraiva ou Fnac para dar-se conta da limitadíssima quantidade de títulos de jazz disponíveis.
É verdade que a indústria discográfica está vivendo um momento de crise, especialmente por causa da música digital facilmente acessível via internet. Se isso vale para o pop e o rock,que sempre dominaram as vendas, quanto mais triste a situação para o nosso caro bom e velho jazz, que sempre contou com um restrito número de poucos (mas bons) aficionados.
Se excluirmos as re-edições, remasterizações e reprensagens de clássicos (será que alguém sentia a necessidade de uma enésima versão de "Kind Of Blue", com camiseta de brinde??), se tentarmos ir um pouco além dos mesmos nomes de sempre (Miles, Trane, Parker, Ellington, etc.) e fora o jazz-pop comercial das várias cantoras estilo Norah Jones, surge inevitável a pergunta: "onde está o jazz hoje? Será que ele morreu mesmo?"
A triste realidade é que hoje, para um músico de jazz, é muito difícil achar uma gravadora que invista nele bancando todos os custos. Jazz não dá lucro. Tanto que, como escrevi na resenha do cd "The End Of A Love Affair", existem nos EUA músicos que para poder lançar seus projetos se veem obrigados a gravar por etiquetas estrangeiras independentes, muitas vezes japonesas ou europeias.
A Blue Note, desde sempre a principal gravadora de jazz, tem um acervo invejável, mas a maior parte dele é ocupada pelas re-edições do período de ouro (anos '50 e '60), o mesmo diga-se da Verve, e pior ainda a Columbia, hoje Sony, cujo catálogo jazz sempre foi bem mais limitado. Um discurso particular merece a ECM de Manfred Eicher, desde sempre dedicada a um jazz mais intimista e voltado para o mundo, cujo catálogo oferece uma escolha boa e diversificada.
Apesar disso, o jazz continua bem vivo, e é "ao vivo", especialmente nos locais das cidades americanas, mas também do resto do mundo, que os jazzistas fazem a música brilhar. E graças a Deus existem incontáveis pequenas gravadoras, quase sempre de propriedade de apaixonados, que se encarregam de impedir que esta forma de arte exale o último respiro.
E é justamente no catálogo de gravadoras como Palmetto, High Note, Concord, Criss Cross, Savant, Venus, Red Records e outras que é possível encontrar o jazz de hoje gravado por mestres veteranos desconhecidos ao grande público (Harold Mabern é um exemplo) ou novos nomes como Ted Nash ou Avishai Cohen.
É só procurar. Existe um mundo de jazz além de "Kind Of Blue" e "A Love Supreme" que quer e precisa ser descoberto e valorizado.
Boas audições à todos!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

One For All - The End Of A Love Affair



Era uma vez Art Blakey e os Jazz Messengers...
Pois é. Escutando este cd, desde as primeiras notas tive a impressão de estar ouvindo um dos clássicos "Blue Note" anos '60 do saudoso baterista. De fato, o som é típico hard-bop e o formato, sexteto (trombone-sax tenor-trompete- piano-baixo e bateria), remete muito à formação do Messengers com Curtis Fuller, Freddie Hubbard e Wayne Shorter.
Nada de particularmente inovador portanto, mas bom e velho jazz como se tocava no período de ouro desta genuína forma de arte afro-americana. Música de qualidade, tocada por um sexteto muito competente.
O trombone em questão é o do Steve Davis, um passado não muito distante em uma das últimas versões dos Messengers, aqui no papel de porta-bandeira virtual dos Messengers de Buhaina.
O sax tenor é Eric Alexander, em anos recentes já aclamado pela crítica e autor de ótimos projetos como solista. O som dele por vezes lembra o do Trane, digamos fim anos '50, período Prestige. Articulado,moderno, como deve ser.
O timbre e o fraseado de Jim Rotondi, trompete, me lembraram muito Freddie Hubbard, um nome de qualidade quando se trata de trompete hard-bop.
David Hazeltine proporciona um acompanhamento de classe ao piano (interessantes as gravações dele em trio, também pela Venus) e contribui ao programa do disco com uma composição própria, "How Are You", construída sobre ritmos cubanos.
Completam impecavelmente a "cozinha" Peter Washington no contrabaixo e Joe Farnsworth atrás dos tambores.
No repertório além de composiçõs originais, alguns clássicos como "Skylark", e uma agradável surpresa, "Corcovado" de Tom Jobim, escolha que foge um pouco do repertório típico deste estilo. Pelo que me diz respeito, não lembro de alguma gravação de bossa nova por parte dos Messengers, que sem dúvida representam um sólido ponto de referência para o sexteto.
Curiosamente "One For All" é um super-grupo que grava em New York pelo Venus, um selo japonês, sinal evidente de quão difícil seja para os músicos de jazz, em tempos de crise da indústria discográfica, encontrar uma gravadora disposta a acreditar e investir neste tipo de projeto.
E os nipônicos conseguem realizar um trabalho em grande estilo, como nós, apaixonados, adoramos. Gravação "audiófila" em 24 bits com o sistema chamado Hyper Magnum Sound, um processo de masterização usado apenas pela Venus, arte gráfica cativante (as capas desta gravadora exibem lindas fotos de modelos em trajes provocantes, nada mal!) por um projeto musical muito bom que prova mais uma vez que o jazz ainda goza de boa saúde. Graças a Deus!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

MASSIMO URBANI - Dedications ( To Albert Ayler & John Coltrane)


"Massimo era fora de série, era como um ET. Quando eu o escutava não eram apenas as notas, o som,as frases a me impressionar, mas também a presença. Era ele, era "body and soul", e somente ele era capaz de inventar no momento uma música desconhecida. Massimo me ensinou a generosidade, o envolvimento físico e espiritual na música. Além disso, seu exemplo é uma vacina para todos contra os abusos e os excessos."
Essas são as palavras de Stefano Di Battista numa entrevista à revista mensal francesa "Jazzman".
Stefano Di Battista é considerado por muitos o sucessor natural de Massimo Urbani, um dos mais brilhantes saxofonistas italianos, morto tragicamente em 1993 em Roma. Como seu ídolo Charlie Parker, Urbani virou escravo dos abusos, apartando-se num mundo onde só existiam o saxofone, a música e a droga, que o conduziu à morte por overdose.
Com apenas 23 anos, em 1980,o alto-saxofonista já era dono de timbre, fraseado e inspiração impressionantes. As notas fluíam do sax dele com uma facilidade inegualável. Este disco é uma homenagem aos espíritos de John Coltrane e Albert Ayler e presenteia os ouvintes com uma das melhores performances de Massimo Urbani, um grandíssimo talento, um músico superior, de quem todos os amantes do jazz lamentam a inestimável perda.

Ellis & Branford Marsalis - LOVED ONES


"Loved Ones" é um cd de grande elegância e sutileza.
Inteiramente composto de faixas por piano solo ou piano e sax, é uma coleção de 14 clássicos do songbook americano, cada um dedicado a diferentes aspectos da figura feminina, as "amadas" mencionadas no título.
No repertório aparecem "Delilah", "Maria" de West Side Story, "Miss Otis Regrets" de Cole Porter, "Liza" dos Gershwin, "Bess You Is My Woman" de Porgy & Bess, "Angelica" de Duke Ellington entre outras. Todos standards, menos "Dear Dolores", a faixa que encerra o disco, uma linda composição do próprio Ellis Marsalis, dedicada à esposa.
O projeto foi concebido para ser um disco de solo piano, mas, lembra o pianista "... Enquanto eu estava tocando estas músicas, pensei que o som do Branford seria ótimo em algumas delas. Pra mim ele é o músico mais criativo existente hoje".
E pai e filho conseguem realizar um trabalho bem feito, de ótima música, sem divergências geracionais. Música introspectiva, noturna, sem muitas surpresas, mas com a delicadeza e o carinho que somente elas (as "amadas") e a lembrança delas sabem proporcionar.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Criss-Cross


Um dos poucos compositores realmente originais, Monk vivia no "seu" mundo: compunha músicas que tocava e gravava repetidamente, sempre achando algo de musicalmente novo a dizer, sempre cavando em profundidade nas armonias e na própria alma. Qualquer músico sabe quanto seja difícil e arriscado tocar uma peça de Monk: aquelas notas "erradas" e o modo pouco ortodoxo com que ele batia nas teclas do piano, lhe permitiam obter um som dificilmente imitável.
Musicalmente Monk deu o melhor em quarteto (piano, baixo, bateria e sax tenor).
Em sua banda passaram grandes saxofonistas como Johnny Griffin, Sonny Rollins e o próprio Coltrane, mas talvez foi Charlie Rouse que conseguiu entrar mais em sintonia com o mundo e os sentimentos do pianista.
CRISS-CROSS é um album rico de swing, menos cerebral e menos complexo nos arranjos comparado com o mais renomado "Brilliant Corners", mas igualmente representativo do estilo Monkiano.
A intesa e o entrosamento com Charlie Rouse são excepcionais e a versão de "Don't Blame Me" para piano solo é inesquecível.


Jazz In Film


Ao longo dos anos Terence Blanchard tem colaborado ativamente com o cineasta Spike Lee em filmes como "Faça a coisa certa", "Mais e melhores blues", "Febre na selva", "Malcolm X" e outros, mostrando uma propensão a um certo tipo de música "narrativa", típica das trilhas sonoras.
Este disco é uma homenagem a grandes autores como Alex North, Bernard Herrmann, Jerry Goldsmith e Elmer Bersnstein.
Seguindo o exemplo de Miles Davis em "Ascenseur pour l'Echafaud", o jazz de Blanchard flui com naturaleza e fascinação, graças também aos magnificos solistas que o acompanham (Joe Henderson e Kenny Kirkland acima de todos).
Memorável sua interpretação de "Chinatown", com o toque mágico do piano de Kirkland (talvez o último trabalho dele antes da morte) e o trompete que respira as tensões do cinema "noir" dos anos '50; a mesma dimensão que se encontra em "The Pawnbroker" de Quincy Jones, em "Taxi Driver" de Herrmann e em "The Subterraneans" de André Previn.
Arranjos em tons crepusculares que dão grande espaço aos sopros para os golpes de mestre de Blanchard e Henderson.
Nos emocionantes 70 minutos do disco tem espaço para a magia de Duke Ellington com "Anatomy Of A Murder", "Degas' Racing World" (um documentário sobre o pintor francês) e dois clássicos ("A Streetcar Named Desire" e "The Man With The Golden Arm").
O cd fecha com "Clockers", do próprio Blanchard: um conjunto de texturas cruzadas que não desmerece perto das composições dos grandes.
Um disco jazz de absoluta beleza.

Racconti Mediterranei


O álbum, gravado no Teatro Comunale de Gubbio, faz jus ao título, com uma série de intensos retratos sonoros profundamente ligados a humores mediterrâneos.
São temas emocionantes, atmosferas delicadas e tocantes, para serem abordados com alma serena, deixando-se ninar e emocionar.
A mágica relação entre o pianista romano Enrico Pieranunzi e o pequeno selo EGEA permitiu ao artista de acrescentar mais uma peça preciosa à sua longa lista já cheia de reconhecimentos. Esta relação não renega a forte matriz jazzística do pianista, mas a reforça acrescentando aos fundamentos jazz humores populares, mediterrâneos, simples mas muito profundos, que claramente Pieranunzi tem inatos na própria alma de músico.
Para este disco Pieranunzi quis ao seu lado dois músicos que ele bem conhece:o baixista americano Marc Johnson,um gigante do jazz, e Gabriele Mirabassi, grande virtuoso do clarinete, que toca soberbamente em qualquer contexto, desde o jazz, até o erudito e o popular.
Pieranunzi escreveu onze temas que, como o próprio título explica, podem ser definidos contos mediterrâneos. O natural lirismo do pianista pode assim vir à tona com toda sua inspiração, muito próxima a um conceito de folk refinado.
O clarinete de Mirabassi e o contrabaixo de Marc Johnson são um complemento perfeito para este que não é apenas um grande disco de jazz, mas também um trabalho fascinante que todos poderão apreciar.
Quando, como nesse caso ,a música é tão grande e simples, não existem limites ou definições para ela.
Escutem e façam escutar.