domingo, 14 de agosto de 2011

Sony MDR-XB300 review




Este Sony MDR-XB300 é um fone "over the ear", um daqueles que cobrem completamente o ouvido. Ao peso cerca de 120 gramas, ele é bem confortável com os pads bem macios e altos. Enquanto o fio de "tipo Y" , ou seja que sai de cada pad, é objetivamente curto (1,2m), tem uma caracteristica muito interessante e que garante boa durabilidade: de fato ele é achatado, tornando praticamente impossível aquela que talvez seja a principal causa de estrago de um fone, ou seja o enroscamento do próprio fio com conseguinte perda de contato. Ótimo portanto para quem o utilizar com pcs ou dispositivos portáteis como I-pods, mp3 players ou celulares.
Quem quiser conectar este fone a tv, home theater ou som e acomodar-se confortavelmente no sofá vai precisar comprar uma extensão visto que o cabo só mede 1,2m(nada de proibitivo).
No papel esse fone promete muito: a resposta em frequência declarada pela Sony é 5-22.000 hz, o próprio XB no código do produto significa "Extra Bass", garantindo uma boa reprodução das baixas frequências. Isso graças aos poderosos drivers de 30 mm que quando em ação oferecem um elevado nível de isolamento acústico. Em prática, se você ouvir música em um discreto volume, quem estiver ao seu lado não será incomodado pelo som e também você não perceberá as conversações e os outros barulhos ao seu redor.
Mas vamos testar este fone com vários tipos de música.
Teste realizado com o fone diretamente plugado na saída do pc.
O MDR-XB300 não é o tipo de fone que possa ser considerado "neutro" ou "transparente", visto que enfatiza os graves, fato que por outro lado assegura que o som reproduzido esteja sempre fundamentado em bons alicerces.
Com o jazz, por exemplo "Love for sale" na versão de Cheryl Bentyne é agradabilíssima: o orgão que entra ao uníssono com o contrabaixo logo após as baquetas no chimbal, tem força e profundidade. A linda voz da cantora bem definida, assim como o saxofone. Com certeza esse é um fone que brilha com pequenos combos. Só pra confirmar minha impressão coloco Ray Brown, Monty Alexander e Sam Most em "Blue Monk": aqui os graves estão na minha opinião dominando. O som me parece um pouco "embolado" pelo excesso de graves. De fato, depois de um pequeno ajuste no equalizador, o piano aparece mais brilhante, os graves ainda sustentam e dão vitalidade à musica mas sem sobrepor-se. A flauta emerge bem na mixagem.
O Trio da paz em "Manhã de Carnaval", muito intimamente nos devolve intacto o feeling da bossa nova: o violão bem definido,nunca metálico, as vassourinhas marcando o tempo, o contrabaixo pleno mas não retumbante, a voz etérea. Amei!
Tempo de mudar de estilo: eis aqui os bons e velhos Stones em "Gimme Shelter". A textura das guitarras è boa, a voz do Mick e da Lisa aparecem um pouco distantes, a rítmica ok, mas é preciso lembrar que essa gravação não è das melhores e talvez fosse esse o efeito desejado pelos próprios músicos. Reprodução honesta de qualquer forma.
Vamos passar a uns descendentes dos Stones: "Remedy" dos Black Crowes é simplesmente devastante! Dá vontade de pegar um baixo e sair tocando!!!
Grandes os Blues Brothers em "Gimme some lovin'". Guitarra, baixo, bateria e sopros se amalgam de uma forma perfeita. Aqui também as vozes me parecem um tantinho atrás. Mas talvez seja minha impressão. Me divirto muito ouvindo essa faixa!
"Still of the night" do Whitesnake testemunha mais uma vez que o MDR-XB300 dá realmente um "live" feeling, como se estívessemos ouvindo os músicos tocando ao vivo. A música tem energia, nunca perde força. No começo da parte falada a voz do Coverdale não é muito inteligível, os graves descem sem piedade lá em baixo, embolando um pouco as coisas. Onde outro fone, digamos o Grado SR-60 devolveria a música bem mais polida, o Sony se comporta de forma visceral, com muita energia mas um pouco de dificuldade na separação dos instrumentos.
De qualquer forma... é só rock n' roll, e (graças a Deus!) nós gostamos.
Quero ver como este fone se comporta em um contexto mais "sério". Vittorio Grigolo, tenor italiano da nova geração em "Uma furtiva lacrima", também necessita de um pouco de correção para moderar os graves que de outra forma soariam invadentes demais. A voz è bem reproduzida em todas suas nuances, tem calor e profundidade. Dificil avaliar os instrumentos que nessa ária se limitam a prover um acompanhamento mais que discreto. Coloco então "Che gelida manina" e os arcos me parecem bem dimensionados, os sopros em equilíbrio. A voz do tenor sobe até os agudos sem grandes problemas. Gostei. Preciso avaliar as vozes femininas - penso - e assim chega a vez de Angela Gheorghiu. "O mio babbino caro" ao vivo me parece correta e equilibrada.
Agora algo diferente: The Ondekoza - Legend é um album que sonicamente daria problemas a qualquer caixa acústica ou fone de ouvido, tamanhas as baixas frequências destes tambores japoneses. O som que escuto através deste fone é forte, profundo e definido na faixa "Odaiko", onde uma flauta se livra etérea no ar, quase afugentada pela percussão do tambor. O som é reproduzido com uma realidade impressionante. Muito sugestivo, sem sombra de dúvida.
Hora de testar os graves de verdade com "Angel" do Massive Attack. Essa faixa tem uns sub-graves daqueles que fazem as paredes tremer(algo em torno de 20 hz!). Mais uma vez o som que chega ao meu ouvido confirma a excelência com que este fone reproduz as baixas frequências, com potência e precisão, sem esquecer do resto do espectro sonoro que tambèm se integra perfeitamente.
"The expert" dos suiços Yello é outro exemplo de música eletrônica com alto conteúdo de graves, vozes profundas, teclados e samples gravados maravilhosamente. Aqui também o resultado è excepcional. É claro que se trata de um fone que se dá muito bem com música eletrônica, hip-hop r'n'b e dance.
Continuo o test com um pouco de música erudita. O "Allegro moderato" da Arpeggione Sonata de Rostropovich e Britten é muito agradável atráves desse fone, talvez um pouco "escuro", faltando um pouco de brilho no piano.
O início da Sinfonia n.5 de Beethoven (Carlos Kleiber) é reproduzido com toda sua carga emocional (o destino que bate na porta). A massa orquestral é bem compacta, falta porém na minha opinião um pouco mais de presênça nos agudos (mas pode ser uma caracteristica da gravação da DG realizada entre 1974-76).
Conclusões:
O MDR-XB300 é um fone que excele onde tiver graves marcantes, não importa o tipo de música, garantindo um "punch" e energia incríveis. Blues, rock, pop, jazz, dance e quanto mais tocam com qualidade através deste fone da Sony. Ao contrário, onde os graves são mais sutis e onde a textura musical é mais complexa, as baixas frequências podem ter a tendência a sobrepor-se um pouco ao resto. Não se trata de um fone dos mais analíticos, portanto talvez não muito apropriado para mixagens em estúdio, por outro lado para quem busca o prazer de ouvir música com boa qualidade e conforto em casa ou em qualquer lugar é altamente recomendado.
Ótimo custo-benefício para quem comprar este fone na Europa ou nos EUA (me custou 35 euros na Fnac da Itália), um pouco menos aqui no Brasil, onde pode ser encontrado ainda por um preço acessível (por volta dos 200 reais), com absurdos (um erro com certeza) como no site Americanas onde o MDR-XB300 é vendido por R$ 9.999!!!

sábado, 19 de março de 2011

Joe Henderson - Lush Life (The Music of Billy Strayhorn)


"Lush Life",gravado em 1991, é o primeiro de uma série de 4 cds-tributo a grandes compositores do jazz moderno que Joe Henderson gravou pelo selo Verve,série que deu-lhe certa fama e até um discreto sucesso comercial nos anos 90. Mas o sax tenor de Joe Henderson já estava na ativa há muito tempo: é de 1963 a estréia pela Blue Note ("Page One"), além de estar presente em ótimos discos considerados "clássicos". Pensamos em "The Sidewinder" de Lee Morgan, "The Real McCoy" de McCoy Tyner, "Point Of Departure" de Andrew Hill, "Unity"de Larry Young e "Song For My Father" com o Horace Silver Quintet, apenas para mencionar alguns.
Este álbum é um tributo à música de Billy Strayhorn, íntimo colaborador de Duke Ellington, e com ele autor de páginas inesquecíveis na história do jazz. É de Strayhorn, à título de exemplo, a celebérrima "Take the "A" Train".
O veterano saxofonista se apresenta em forma excelente, acompanhado por músicos da "nova safra", que mostram competência e confiabilidade. O quinteto é completado por um inspirado Wynton Marsalis (trompete), o brilhante pianista Stephen Scott, Christian McBride (contrabaixo) e Gregory Hutchinson (bateria).
Em vez de enfrentar as dez composições de Strayhorn com o quinteto, o líder varia as formações: dueto com contrabaixo, com piano e com bateria, trio com piano e bateria ou piano e contrabaixo, quarteto sem o Wynton Marsalis, três faixas em quinteto e a final "Lush Life" para saxofone solo. Um programa variado que oferece espaço de sobra para todos brilharem e que só pode agradar o ouvinte.
Na inicial "Isfahan", o saxofonista é acompanhado apenas pelo excelente contrabaixo de Christian Mc Bride, 21 anos na época desta gravação, mas já dono de uma técnica e de um timbre formidáveis. "Johnny Come Lately" é um up-tempo com espaço para todos os solistas e com um interplay entre Wynton Marsalis e Joe Henderson que o próprio saxofonista chega a comparar com as colaborações com Kenny Dorham no início dos anos '60.
Mas é difícil escolher uma faixa entre todas, considerado o alto nível de qualidade da música e o entrosamento da banda. Desde a belíssima "Isfahan" por sax e contrabaixo, até uma arrasadora versão de "Take The "A" Train" com Henderson duetando com um incrível Greg Hutchinson na bateria, chegando às faixas com o quinteto completo, este cd tem o som e o sabor de um clássico do começo ao fim.
Para quem ainda não conhece Joe Henderson, "Lush Life" é um ótimo ponto de partida, junto aos outros títulos pela Verve. Quem já aprecia este grande jazzman desde os tempos da Blue Note, Milestone ou Red Records, encontrará agradáveis confirmações do talento e da arte deste grande músico, que infelizmente nos deixou em 2001.

Joshua Redman - Mood Swing



Depois de dois bons discos (a estréia com o quarteto, e “Wish” com Pat Metheny, Charlie Haden e Billy Higgins), Joshua Redman volta com seu quarteto neste “Moodswing”. O acompanham Brad Mehldau (piano), Christian Mc Bride (contrabaixo) e Brian Blade (bateria), que em breve decolarão todos para carreiras solistas prometedoras. Os 70 minutos de música apresentam algumas novidades sobre os dois álbuns precedentes: a primeira é que as onze faixas são originais de autoria do próprio Redman e a segunda é que o mesmo, além do sax tenor, utiliza o soprano. Redman obviamente tem maturado bastante desde os discos anteriores: isso é evidente no timbre reflexivo e aveludado do sax tenor em “Sweet Sorrow”, a faixa inicial, na bossa nova “Alone In The Morning”, no fraseado quase “free” de “Dialogue”, ocasiões em que o saxofonista mostra domínio em cada registro do instrumento, entre outras coisas, com uma voz bastante original, que não mostra influencias coltraneanas, tão comuns nos jovens saxofonistas.O som de Redman parece mais ter raízes nos tenores tradicionais (Gene Ammons, e até Ben Webster).
Onde aparece um pouco de “Trane” é quando Redman passa a utilizar o sax soprano, em “The Oneness Of Two (In Three)”. A banda, soberbamente, acompanha o líder com classe e refinamento: muito bonita a introdução com arco de Christian Mc Bride na faixa “Dialogue”, e no disco inteiro fenomenal a contribuição de Brad Mehldau, um verdadeiro gênio no piano. Notável também a performance de Brian Blade atrás dos tambores.
Um cd que se escuta com prazer e que prova que o jazz dos anos 90 tem deixado registros muito válidos.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Cães de aluguel (Reservoir dogs)



Admito ser um pouco preconceituoso sobre os filmes de Quentin Tarantino.
Antes de "Cães de aluguel", o único título que conhecia deste diretor era "Bastardos inglórios", filme que, se por um lado havia me conquistado pela habilidade de Tarantino de construir tensão (memorável a cena inicial), por outro exibia cenas de violência gratuita de extremo mau gosto, além de uma música que grotescamente tentava clonar os "spaghetti-western" de Sergio Leone musicados por Ennio Morricone, desde sempre uma das grandes paixões de Tarantino.
Minha opinião é que os filmes de Tarantino oscilam entre a obra-prima e o pior do cafona/brega, dependendo dos pontos de vista e dos gostos pessoais de cada um podem agradar ou não. Enfim, ou se AMA ou se ODEIA.
Em "Cães de aluguel" também tem violência, mas ela nunca é desnecessariamente jogada na cara do espectador e sim usada como propelente para dar impulso à trama. O aspecto psicológico dos personagens e como eles enfrentam as situações que aparecem é o que realmente faz a diferença aqui.
Os personagens são bem construídos, os diálogos inteligentes e cortantes; os atores, entre os quais minhas preferências vão para Harvey Keitel e Steve Buscemi, excelentes.
A trama: um chefe criminoso reúne um grupo de profissionais nenhum dos quais se conhece para realizarem juntos um assalto à uma joalheria. Tudo dá errado: a polícia já se encontra no local antes do crime acontecer; é evidente que na quadrilha há um informante.
O legal deste filme é que Tarantino consegue a proeza de fazer com que TODOS os personagens principais morram.
Se você gosta de ação, de violência e diálogos afiados (memorável o exilarante início com os personagens, entre os quais o próprio Tarantino, debatendo sobre "Like a virgin" de Madonna), você vai amar "Cães de aluguel". Caso contrário, não.
Difícil é ficar indiferente.