domingo, 15 de agosto de 2010

SONHAR COM A PRÓPRIA MORTE

É possível sonhar com a própria morte?
Obviamente sim. Não deveria existir nada de estranho nisso, da mesma forma como não deveria ter nada de estranho em sonhar de fazer sexo com uma pessoa amiga. Ou também não amiga, mas apenas vista, mesmo que uma única vez. Faz parte daquele delicado desequilibrio que nos mantém em vida.
O equilibrio leva à morte. Uma vez que o Universo parar sua violenta expansão, começada no início do Tempo, o calor não poderá mais transformar-se em energia, em trabalho. Nenhuma reação, nenhum movimento: só uma concreta e presente situação de eternidade e inalterabilidade, que coincide com a morte.
É possível sonhar com a morte, da mesma forma como uma noite você sonha com um casamento. Éros e Thanatos desde sempre estão em conflito e das feridas deles jorra nossa realidade vivente. Uma ferida deles nos deu a história de Romeu e Julieta. Muitas pequenas feridas nos trazem as incontáveis pequenas paixões de dias quaisquer e de gente qualquer.
Quando estou em silêncio sinto o sopro deste desequilibrio.

Me lembrei de como eu sonhei com minha morte...
Estou sentado no assento posterior de um automóvel, voando no asfalto. As árvores são matéria, o ar é matéria que bate na pele, o asfalto pode dilacerar a carne.
Porções de mundo passam debaixo do meu corpo sentado.
Sair da jaula... Voar, voar, rolar, voar... Os anjos nunca foram felizes... Cair e sentir a pele doer... Cair, sangrar... Sinto o meu corpo, eu sou o meu corpo, meu corpo é tudo que eu tenho. Estou feliz, não tenho medo de precipitar, mas é tudo um espetáculo de uma tal extraordinária lentidão...
(13/08/2007)